26/03/2011

O Mestre Misterioso

Parte 5 – Fundação do Fantástico Território da Fantasia

E, como se houvesse aprendido um novo segredo do universo, teve uma idéia fantástica. O seu mundo dos caminhos luminosos era um gigante mistério para todos, mas nada demais diante de seus olhos, por isso resolveu adentrar nos recônditos do seu mais poderoso mundo. Suas fantasias não passavam de exacerbação da imaginação até aquele dado momento, mas a partir de então materializou as portas para o seu multiverso particular. Entenda-se por multiverso, um intrincado conjunto de universos simultâneos e interconectados com todos os mundos visíveis e invisíveis. A princípio era uma porta imaginária a qual lhe concedia acesso aos mais elevados ou profundos locais do universo. Estava planejando aperfeiçoar o seu mundo particular, ou seja, um território no mundo espiritual ao qual ninguém teria acesso a não ser com sua permissão. Sua mente sempre fervilhou de idéias, e logo que começou a forjar seu universo, conseguiu criar um novo paradigma. Apesar de ser o criador de todas as coisas em volta não podia conhecer o que ia muito alem e nem o passado. Dessa forma, seu universo era verdadeiramente aleatório e o desenrolar dos acontecimentos dependia da imaginação do criador. Dentro do seu mundo, qualquer ser automaticamente estava sujeito às regras do seu espaço, portanto ninguém teria privilégios ou auxilio.
Era um mundo no qual se experimentava as situações desencadeadas pela imaginação. Sendo um universo particular à parte de todos os outros, o usuário deste espaço se encontraria invariavelmente imune à morte. No mundo do misterioso mestre não havia morte, mas sempre existia a possibilidade de ser expulso do espaço devido à violação séria de regras. Todos esses detalhes ainda precisariam ser trabalhados, pois o mestre misterioso ainda estava interessado em permanecer em absoluta reclusão.

Parte 6 – Enfrentando o Maior Inimigo, Ganhando o Maior Aliado

Sempre tivera a intenção em vida de provar que nada era impossível, mesmo a própria impossibilidade, haja vista que dentro de certas limitações não se pode esperar que algo se opere misteriosamente por intermédio de um meio externo, ou seja, tudo é possível quando se faz presença de espírito e intenção poderosa. Assim sendo não era uma vontade absoluta de negar o sentido de impossível, mas sim de enxugar os pormenores ao redor do termo. Quando entrou pela primeira vez em seu mundo particular, viu um dragão gigantesco, aparentemente grande demais pra ser domado ou destruído. Imaginou que como estava no seu mundo, precisava seguir suas regras por mais que adiante cogitasse obter o segredo do mesmo. Não que tivesse outra escolha, pois estando nesse território perdia o poder de prever o futuro e burlava a morte em todos os seus sentidos. Sabia que teria um caminho infinitamente gigantesco pela frente, mas como gostava de dizer diante de situações complicadas: Nada é impossível, nem mesmo atravessar o infinito, alcançar o seu fim hipotético, e depois voltar.
Tirou a espada de sua bainha e partiu pra cima da fera gigantesca. Deu dois cortes com toda sua força, que aparentemente só fizeram cócegas no dragão colossal. O animal soltou uma bola de fogo imensa que me fez cair destruído no chão. Não tinha morrido é obvio, mas naquele instante seria expulso do meu universo caso desistisse. Tinha sido derrotado pelo oponente, mas usei de uma técnica milenar pra reanimar meu corpo – o famoso Last Resort. Uma chama dourada percorreu ao redor do meu perímetro exatamente da forma que imaginei. Todos os meus status dobraram e depois triplicaram. Cruzei meus braços na frente do meu peito, e luzes poderosas passaram a emanar das minhas mãos. Era minha primeira manipulação dos poderosos elementais Salamandra e Ondina. A coloração era azul da mão direita que cruzava o peito para esquerda simbolizando o poder da água. A mão esquerda cruzava na frente da direta para a direita e desta emanava uma luz vermelha simbolizando o fogo. Comecei a levitar e gradativamente novas luzes brotavam dos meus pés, do direito uma luz verde simbolizando os ventos (elemental sílfides) e do pé esquerdo saia uma luz amarela, simbolizando o poder da terra (elemental gnomo). Novamente meus status dobraram e depois triplicaram. Então materializei duas barreiras intransponíveis ao redor de todo meu perímetro. Foi então que o dragão começou a cuspir uma coluna de fogo que parecia jamais ter fim, só que a lava que saia da sua boca não conseguia ultrapassar minhas poderosas barreiras. Depois de muito tempo a fera colossal parou de atacar e então percebi que era meu turno. Ataquei com um sabre de luz, ataques devastadores que surtiram um efeito gigantesco no dragão, o mesmo cambaleou para trás e caiu com grande estrepito. Nesse momento, parei de manipular os elementais, escalei até os céus, andando pelo ar e pulei como se tivesse sido chamado por uma força maior. O dragão sumira e assumira a forma de um pássaro maravilhoso de penas incandescentes e passou por baixo de mim, como se estivesse me aceitando como seu aliado.

Parte 7 – O Espadachim da Armadura de Tungstênio

Compreendi que o dragão era a metáfora da minha vida, a representação de que o maior inimigo do homem sempre é o seu próprio reflexo e nada mais. Aquela criatura era um alerta para jamais esquecer o perigo que é perder de vista o maior obstáculo que se pode por em nosso caminho. Era o tipo de coisa com a qual já estava habituado, de certa forma tão habituado com a idéia ao ponto de se afastar de todo o universo para simplesmente refletir sobre o fato, incansavelmente, jamais se rendendo às fraquezas inerentes da condição supostamente imposta, por isso entenda-se, a idéia do sofrimento permeando quase que constantemente o imaginário do inconsciente coletivo. Pensei por alguns momentos, que a idéia de enfrentar o meu maior inimigo logo ao adentrar o meu universo era algo bastante consolador, no entanto depois ficou claro que isso era um ledo engano. Podia contar agora com o auxilio do dragão na minha jornada, pois uma vez sendo derrotado por mim, automaticamente se tornava meu aliado, não que o mais forte subjugasse o mais fraco. Na verdade, o dragão meramente respeitava meus talentos e por isso tinha vontade de me seguir ao longo do caminho. Andei mais um bocado, e cheguei num deserto enorme, estava morrendo de sede. Não tinha parado pra pensar onde conseguiria os suprimentos necessários pra minha subsistência, mas tentei pedir ajuda ao meu dragão. O mesmo ofereceu levar-me para algum lugar. Subi nas suas asas e pouco tempo depois estava sobre uma lagoa límpida de água doce. Sorvi daquele liquido maravilhoso, que agora enchia o meu ser da energia que me era escassa. A água então sumiu como num truque maravilhoso, fenomenal e sem explicação dentro da lógica humana. Uma esfera verde se materializou e de dentro dessa luz surgiu um espadachim com vestes de carbeto de tungstênio. Imaginei que não se tratava necessariamente de um inimigo, pois porque assim haveria de ser? Uma figura em forma de sombra se materializou do meu lado direito e disse em tom fantasmagórico – Esse indubitavelmente é o seu universo meu caro mestre, mas não se esqueça que todos aqueles os quais se manifestarem através de esferas de luz serão seus oponentes imediatos. Estarei a sua disposição sempre que confrontar com inimigos poderosos e lhe fornecerei dados uteis a cerca do seu adversário, mas ainda sim nunca se esqueça meu senhor, tu serás o responsável pelo desfecho de cada confronto. Sou meramente a personificação da sua mente obscura e como tal lhe concederei imenso poder, contanto que jamais se esqueça de trabalhar comigo.
Dito isso compreendi um dos pilares do meu universo, o confronto com oponentes os quais imaginasse invencíveis. Então pedi pelo auxilio da minha sombra, que não era senão uma extensão do meu ser, que anteriormente nunca houvera prestado atenção. Pronunciou em tom categórico, como se proferisse a mais pura verdade – Seu adversário usa uma armadura que é indestrutível a ataques físicos, possui defesa absoluta contra magia. Sua velocidade é gigantesca e seu poder é enorme, você sequer será capaz de tocá-lo.
Dito isso, perguntei para ele – Como você pode ter tanta certeza? Rapidamente respondeu que era uma parte do meu ser e como tal tinha a capacidade de vislumbrar todos os meus poderes e suas extensões. Não aceitei isso de forma alguma. Argumentei que nos mundos anteriores por mais que algo pudesse se demonstrar impossível, sempre haveria uma solução para um obstáculo, independente do quão inacreditável parecesse.
Agradeci pelo auxilio da minha sombra, mas mandei que fosse embora, pois estava interessado em engajar na batalha imediatamente. Sai em disparada sobre o cavalheiro da armadura espetacular. Antes que pudesse cogitar atacá-lo seu semblante sumiu completamente tal como uma miragem no deserto se desfaz quando nos aproximamos dela. Cheguei ao ponto de pensar que se tratava de uma ilusão, mas pouco tempo depois vi que meu adversário estava do meu lado, acertou-me com sua espada, arremessando-me vários metros de distancia. Foi antão que percebi o tamanho do meu oponente.
Repeti minha técnica fantástica, Last Resort e em poucos segundos formas de energia exuberantes e brotavam dos meus membros e em pouco tempo formava uma barreira teoricamente intransponível ao redor do meu corpo. Combinei o poder dos quatro elementos, originando um quinto extremamente poderoso o qual lancei com grande força sobre o espadachim misterioso. O cavalheiro não se desviou da energia, simplesmente recebeu todo seu impacto no peito. Não conseguia acreditar que todo aquele poder sequer tinha sido capaz de deslocar o meu adversário por um milímetro. O cavaleiro da armadura misteriosa então rio histericamente e bradou com energia – Eu sou o grande mestre Gilgamesh, minha força é superior à de cem homens jovem, não será capaz de me derrotar.
Entendi que estava enfrentando o lendário Gilgamesh e percebi que esse adversário era mais forte que minha própria sombra. Era uma batalha tecnicamente impossível, precisava raciocinar rapidamente. Tinha a crença absoluta por um lado que jamais poderia derrotar minha sombra, mas se meu adversário era mais forte que minha escuridão interior, isso significava que não tinha como vencê-lo?  Estava começando a compreender uma nova lição que não fora assimilada ainda em vida. Não podia derrotar minha sombra porque ela era parte do meu ser e como tal tinha um papel preponderante durante meu crescimento, que era justamente de guiar meus paços, jamais deixando que cedesse ao fracasso. Tudo que tinha de fazer era reconhecer a presença da minha sombra e trabalhar com ela para ficar mais forte. Se abandonasse a sombra no meio do caminho iria lamentavelmente falhar, primeiro por não dar ouvidos a uma das minhas verdades e segundo por taxar de ruim algo que era próprio, mas negado como se fosse vergonhoso possuir. Confesso que o entendimento dessas palavras requer uma grande experiência para perfeita compreensão. Julguei a principio que o maior inimigo do homem era seu próprio reflexo, mas tinha incorrido num grande erro. Foi ai que percebi a tempo que todos os humanos têm como oponentes seus próprios reflexos, e por isso na verdade o maior inimigo do homem passava a ser o reflexo dos homens e não o próprio, pois uma coisa é certa o nosso reflexo nós podemos compreender e desvendar suas nuances já o reflexo dos outros é sempre algo misterioso aos nossos lhos. Eram lições valiosas e chegavam a minha mente como balas de canhão.
Refleti tudo isso e percebi que Gilgamesh era sim reflexo da minha imaginação só que com elementos adicionais, os quais faziam toda diferença, pois não podia derrotar esse guerreiro da forma em que estava acostumado. Desfiz o Last Resort com a mesma velocidade em que o produzi. As chamas coloridas pararam de brotar dos meus membros e voltei ao solo como de costume. Chamei minha sombra e disse pra ela em tom categórico – Criarei uma nova arte e com ela despedaçarei Gilgamesh, pois sou o grande mestre, masterbrum o gigantesco. Minha sombra assentiu em silencio, era como se aprovasse minha coragem e disposição.
Rapidamente materializei um bloco de energia densa no ar, desmontei um pedaço e o enfiei no solo logo atrás de mim, formando uma espécie de parede resistente a impactos. Com o resto da energia, puxei o núcleo denso da fonte de luz várias vezes até que uma arma se produzisse. Apontei para o espadachim e apertei o gatilho. Da minha arma saiu um poderoso projétil que explodiu ao entrar em contato com o tungstênio da armadura do espadachim e a pressão gerada pelo tiro me arremessou contra a parede que havia previamente criado. Foi um ataque espetacular, mas não era suficiente para destruir Gilgamesh. Depois materializei duas espadas de energia densa, brilhavam como a armadura do meu adversário. Ao longo da vida sempre contemplara os metais e suas propriedades, e agora estava forjando um novo tipo de arma, uma a qual só poderia imaginar quando em vida, mas jamais criar. Avancei em linha reta, a princípio o meu oponente conseguiu desvencilhar dos primeiros golpes, mas à medida que continuava atacando, minha velocidade ia aumentando drasticamente e os ataques ficavam muito fortes. Já estava começando a acertá-lo em cheio e quando dei o ultimo ataque, sua armadura se desintegrou em milhões de pedaços. Os impactos da energia da minha espada disseminaram por toda sua armadura e o ultimo golpe extremamente forte serviu para acionar uma espécie de cadeia de explosão em seqüência. Gilgamesh mirou no horizonte estupefato e disse de forma impressionada – Já travei centenas de batalhas, nunca fui derrotado e durante mais de cem mil anos ninguém sequer foi capaz de imprimir um arranhão na minha armadura de tungstênio, você é um guerreiro virtuoso. Nunca me esquecerei dessa batalha.  Você tem o meu respeito. E seu semblante desapareceu no ar. Onde Gilgamesh estava jazia agora um livro negro. Peguei o livro e na capa dizia, aqui jazem os segredos dos princípios – Vol 22: A superação da sombra alheia, o caminho dos sagazes.

Parte 8 – O Livro Deixado para Trás

Estava sozinho novamente, e aproveitei pra ler todo o conteúdo deste livro misterioso. Havia muita coisa, mas algumas idéias chaves saltavam aos olhos, entre os fragmentos chaves destaquei. “O mundo interior é um espaço infinito, mas não se esqueça que o universo é formado pelo conjunto de mundos interiores. Sendo que cada pessoa pode ter diversas percepções da realidade. Portanto trabalhe bem seu universo interior para poder vislumbrar o gigantesco universo alheio à sua mente.”, “O mundo interior contem a chave de todos os segredos. Os segredos escapam aos sentidos e não podem ser percebidos se não por um verdadeiro sábio, ou seja, por aquele que busca na simplicidade a resposta para a suposta complexidade, que permeia o inconsciente coletivo.” e “O gigantesco só pode ser visto pelos olhos treinados. A superestimação das circunstâncias que envolvem a própria realidade nada mais é que o fracasso e falta de percepção do universo ao redor. Todos têm suas escolhas e oportunidades e cada um deverá acatar com suas decisões, sendo que menosprezar o fardo alheio e valorizar suas próprias chagas não só é tolice, mas às vezes digno de pena.” 

Parte 9 – O Ensinamento do Lendário Gilgamesh

Foi então que surgiu Gilgamesh reapareceu. Ao vê-lo novamente em tão curto intervalo de tempo perguntei se já havia esquecido a derrota que sofrera poucos momentos atrás. Gilgamesh disse que o tempo era ilusão dos homens assim como o espaço. Não entendi nada e desafiei o valente guerreiro a um combate. Dessa vez, Gilgamesh estava sem armadura, mas não pareceu ter a menor intenção de se desviar do meu golpe. Acertei-o com um impacto tremendo, mas o meu oponente não se mexeu sequer um milímetro e fui inclusive empurrado para trás com a mesma força que apliquei.
Gilgamesh riu alto e mencionou de forma sarcástica uma das leis da física – Ação e reação garoto, você conhece? Nunca nem em minha imaginação poderia esperar este tipo de defesa, era incrivelmente fantástico. Gilgamesh propôs então algo que era incapaz de entender no momento – Garoto, eu proponho o seguinte, darei a ti a espada mais forte do universo e tu irá me atacar com ela. Assim não terei chances de me defender e você irá alcançar seu objetivo. Aceitei sua proposta embora desconfiasse tremendamente de sua extrema generosidade. Gilgamesh então chamou seu fiel amigo Enkidu o qual trouxe para mim uma espada negra, de uma cor fascinante e que emanava uma energia fantástica. Fiquei estupefato com a perfeição daquela arma e quando a peguei imaginei comigo que agora era invencível e que Gilgamesh tinha cometido seu maior erro ao me dar sua arma mais poderosa.
Foi na direção do meu adversário e ataquei-o diretamente. Não compreendi o que se seguiu, Gilgamesh segurou a lamina da minha espada com a mão espalmada. Pensei comigo que talvez a espada tivesse algum encantamento ou propriedade que impedisse que eu executasse meu ataque ou ainda que a espada apesar de emanar energia não era lá tão forte. Durante esta breve reflexão, Gilgamesh interrompeu minha linha de raciocínio e começou a falar. – Garoto eu teria que ser mesmo um inútil para ser cortado pela espada mais forte do mundo. Você lembra-se do nosso primeiro encontro? Você realmente acredita que venceu aquela batalha? Vou te dizer uma coisa, essa é a espada mais forte do mundo, pois o único que pode quebrá-la sou eu, e como não tenho interesse de fazer isso fica valendo o que disse. Agora se a espada mais forte do mundo não pode me derrubar, isso implica que ou minha força se iguala à da espada ou eu sou mais forte. Mas para todos os efeitos garoto se você realmente quer ganhar esta luta, perceba que pelo menos a força da espada o separa de uma vitória. Agora considerando que você usa sua força e mais a da espada e ainda sim não tem êxito, diria que suas chances de sucesso são ínfimas não por causa das nossas diferenças de poder, mas por outro motivo não aparente. Vou lhe dizer uma coisa que um dia possa vir a ser útil em suas aventuras – O fundamental é imperceptível aos sentidos. Esse é o lema dos maiores guerreiros, entenda seu significado oculto e você se tornará um gigantesco, mesmo os ditos deuses imortais não serão páreo para você… Agora tenho que ir, mas quando e se um dia você captar o sentido por detrás do meu segredo, eu estarei esperando para uma batalha. E sumiu no ar como uma miragem no deserto.

Parte 10 – O Aprendizado Supremo e o Caminho Oculto Revelado

Era hora de seguir em frente. Mas subitamente lembrou-se de tudo aquilo que havia deixado para trás, e isso o incomodou, pois estava dissociado de todo o resto do universo.  Era aquela estranha sensação que o perturbara vários anos atrás. Apesar de tudo não estava interessado em rever ninguém, mas por outro lado tinha vontade de sair por aí descobrindo os mistérios do seu território. Era um espaço vasto repleto de imaginações férteis e criativas. O segredo por detrás das palavras de Gilgamesh, na verdade, era algo trivial para mim. Sempre soube o significado delas, mas por força do destino sempre esquecia e tinha que ficar lembrando a informação. Sabe quando dizem uma coisa fantástica e você impressionado esquece o que foi dito? Talvez não, mas em todo caso deixe lhe explicar. O segredo preservado ao longo das gerações é a lei da atração, que, resumidamente, prega que de acordo com suas vibrações energéticas você irá atrais em sua vida determinadas circunstâncias cada vez com mais força. Acreditei nisso, pois era agradável e razoável, e de certa forma funcionava todas as vezes. O problema é que inadvertidamente acabei acentuando e dando ênfase a minha natureza soturna e reservada e cada vez mais me via afastado de tudo e de todos até que chegou num ponto decisivo, estava muito longe, mas queria estar por perto, porém se ficasse perto ainda me sentiria longe e de certa forma não seria eu mesmo. Era muito confuso, então o tempo passou rapidamente e a minha vida, pelo menos no plano terrestre acabou. Foi uma jornada muito proveitosa, tinha aprendido muito, mas o pior de tudo é que ainda estava fora de mim, e acabei inadvertidamente levando assuntos pendentes para o outro lado. Os grandes feitos mencionados anteriormente não pareciam surtir nenhum efeito em minha alma, estava aos pedaços e pensava que poderia me reconstruir ao reconstruir aqueles ao meu redor. Tolice a minha, pois somente um homem disposto a se erguer será capaz de se levantar e superar o ultimo obstáculo, o mais obscuro de todos. Não que todos tenham um obstáculo comum, mas cada um certamente precisa algum dia enfrentar seus demônios, ou seja, seus maiores desafios, aqueles que os levarão a um conhecimento profundo da natureza e a uma conseqüente evolução dentro da hierarquia do universo. Chamei então Gilgamesh, o momento era decisivo. Eis que o lendário guerreiro surgiu como um relâmpago no meio de uma tempestade repentina. O guerreiro então perguntou – E então, está pronto?  Encarei meu oponente e falei – Não é a resistência de uma armadura que define a defesa de uma pessoa, não é uma espada que define o seu poder de ataque, não são as palavras que definem o desfecho de uma batalha. Somente quando se sabe o que se procura de verdade é que se acha de fato o fundamental. Não procuro a separação do mundo, embora tenha sempre caminhado nessa direção ao longo do tempo, sempre evitando o resto do mundo e fazendo as coisas da minha maneira.  Reconheço que supervalorizei os sentidos, a matéria e todas as coisas que regem o mundo físico. Acabei esquecendo o mais importante que é fazer a diferença no mundo das idéias, sendo uma pessoa mais justa, bondosa, amável e prestativa. Não incorrerei nesse erro novamente e ainda que tenha tido que aprender essa lição a duras penas, eu retornarei ao mundo a que pertencia para atar as duas pontas e poder seguir em frente.
Gilgamesh falou – Mas como você irá fazer isso? Seu tempo no mundo terrestre já acabou e não há mais como retornar! Foi então que eu pronunciei a verdade guardada no coração, uma das partes que compunha a essência do meu ser. – Isso não é problema, nunca o foi de fato. Desde o momento da criação deste meu universo particular, estive analisando atentamente cada acontecimento a fim de aprender o propósito de tudo isso. Em principio criei esse espaço para fugir dos outros universos pré-existentes, foi uma tentativa fútil de resistir ao inevitável re-encontro com os seres das outras esferas. Minha escuridão se revelou desde o momento que pisei no meu novo mundo, alertando sobre as regras do meu mundo. A fim de tornar as coisas mais agradáveis, imaginei um espaço que não era previsível de tal forma que pudesse me distrair ao longo dos tempos. Enfrentei o dragão, metáfora da minha personalidade e logo depois o encontrei. Imaginei que tinha derrotado você, mas foi um equivoco grande. Subestimei o meu próprio mundo e pensei que poderia lidar com qualquer oponente, enfrentando-o diretamente. Você Gilgamesh deixou o livro de sabedoria para trás de propósito e isso não era parte de minha imaginação, foi então que percebi que você era não uma parte da minha imaginação, mas a própria personificação da minha imaginação ao longo dos anos. De posse desse conhecimento, resta voltar às origens para desfazer o que fiz, pois ainda que eu atravesse as fronteiras do tempo e do espaço não serei capaz de ir muito longe sem o auxilio dos que desprezei e ignorei. Gilgamesh bradou em fúria – NÃO PERMITIREI QUE VOCÊ SAIA DAQUI COM VIDA. O grande guerreiro veio em minha direção e atacou usando a espada mais forte do mundo. Fiquei parado, e a espada atravessou meu corpo sem tocar em um ponto do meu corpo sequer, então disse para Gilgamesh – Gilgamesh eu teria que ser mesmo um inútil para ser cortado pela espada mais forte do mundo. Agradeço pela lição que você me deu, o aprendizado foi de imenso valor, mas de uma coisa tenho certeza. Não posso ser derrotado por você e nem por ninguém neste território, pois atrevo a dizer que hoje sou o Pai da Imaginação, graças ao esforço continuo empregado desde minha encarnação até minha suposta morte no mundo dos humanos. Estava decidido a voltar para a Terra e recomeçar da onde tinha parado. Levantei da minha cripta e segui em frente para resolver algo deixado para trás, certo assunto pendente.