19/02/2011

O Mestre Misterioso


Parte 1 – Entrando no Mundo das Sombras

As portas de todos os mundos se fecharam e a escuridão se espalhou por todos os cantos, ainda sim o invólucro do espaço não era o da mente, por isso os caminhos brilhavam infinitamente nas profundezas das trevas que reinavam. Os iludidos ajoelharam rendidos e entregaram suas vidas, os soberanos do poder encontraram seu caminho sem grandes dificuldades, mas aos poucos foram perdendo suas esperanças e foram derrotados pelo obscuro. Durante essa ocasião, um sábio rapaz trilhou seu caminho e estava à beira de se render, quando ouviu uma voz interior berrar - Seu maldito desgraçado, vai entregar o jogo agora? Não imaginava que fosse tão fraco, seu verme inútil! Era aquela voz interior a qual aprendera ouvir ao longo dos tempos difíceis. Era a outra face do seu poder, seu aliado dos tempos de guerra. Anos de experiência haviam lhe ensinado que não se pode derrotar o lado negro interior, mas que ao invés disso podemos se aliar ao mesmo.
Ficou satisfeito de ouvir a voz da sua metade existencial, entendeu que estava fraquejando e que estava já nos seus limites. Ouvir o seu lado negro se manifestar dessa forma era sinal de que estava perdendo a batalha e que, portanto estava envergonhando cada parte do seu ser, tanto o lado bom quanto o lado ruim que afinal de contas são duas caras da mesma moeda. Estava muito escuro de fato, tinha trilhado muitos caminhos também, mas nenhum destes parecia levá-lo para qualquer lugar, pois todo o universo estava mergulhado na mais tenebrosa escuridão. Sua voz interior pareceu se acalmar um pouco, foi quando percebeu estar no lugar que imaginou que estaria quando fosse morrer. Não havia nada que pudesse fazer por hora, pois dependia da ajuda alheia, e não queria pedir por essa ajuda. Lembrou-se do desafio que tinha proposto a si mesmo caso algum dia fosse parar nesse lugar tenebroso. Tinha absoluta convicção que estaria ali em determinado momento, e julgava ser capaz de se arranjar sozinho como sempre tinha feito em vida. Foi então que a dúvida se diluiu no mar de certezas que subitamente passou a ter. Não era um rapaz de se dar por vencido e tampouco apreciava a idéia de receber ajuda de outra pessoa senão daquele guardião que o acompanhara em seus momentos de glória. Ficou observando o mar de escuridão, contemplando silenciosamente o sofrimento que aquilo tudo havia lhe causado e percebeu que não podia seguir em frente ainda, pois precisava pensar sobre algumas coisas ainda.

 Parte 2 – Resgatando o Sonho do Mundo Espiritual

 O desafio que havia proposto a si mesmo em vida terrena era algo absolutamente fantástico, alguns diriam que era completa loucura. Mas não tinha vontade de seguir em frente por hora e cumprir a meta que havia previamente estabelecido não era simplesmente atender a um desejo do seu ego ou simplesmente provar do que era capaz. O seu intento era gigantesco e não poderia entregar o jogo agora e nem nunca. Finalmente tinha ganhado completa lucidez, o que nestes cantos, diga-se de passagem, é uma tarefa no mínimo extra-ordinária. Fechou os olhos e começou a imaginar o seu mundo com uma força mental sem precedentes. Quando abriu os olhos novamente, a escuridão se desfez em todos os espaços ao seu redor, estava em outro lugar. Sabia que lugar era esse, pois tivera um grande aprendizado ao longo de toda sua existência naquele plano. Não era um rapaz qualquer, tinha um conhecimento formidável e jamais poderia cair dentro de uma própria ilusão ainda mais se a mesma fosse criada por si mesmo. Nunca foi do tipo de dar muito valor aos sentidos, mas tinha percebido a tempo que havia incorrido nesse erro desde o momento que ingressara neste local. Havia ficado alguns dias na passagem obscura e realmente chegou a crer que não haveria saída. Era uma ilusão fantástica, mas seu conhecimento gigantesco jamais deixaria que perdesse a consciência por muito tempo. O importante é que estava agora em um território isolado, produto de sua imaginação e, portanto isento de interferências de todas as ordens. Sempre quis isso durante todos os momentos, mas quando se afastava demais dos outros sempre tinha intenso desejo de ter alguém por perto. Tinha dificuldades de se envolver com o mundo, e por isso estava muito perturbado e sem nenhuma vontade de se encontrar com quem quer que fosse. Questionou-se por um momento se estava adiando o inevitável, mas sabia que dessa vez não era uma questão de simplesmente fugir de seu destino, pois estava determinado a operar nos mundos inferiores de uma forma que lhe agradava. Sua perturbação no mundo terreno o seguiu até o outro lado, já temia que isso fosse ocorrer, mas ainda sim estava determinado a dar prosseguimento à sua obra e de mais ninguém, pois era tudo no que acreditava e não tinha e menor disposição de se associar aos outros movimentos.

Parte 3 – A Dissociação do Mundo Terreno

Quando nascera estava quase sempre só, por um lado isso era benéfico, pois fazia com que aprendesse a se virar, por outro era ruim, pois adquiriu o hábito de criar uma barreira para se afastar dos outros, pois de alguma forma imaginava e acreditava que não precisava dos outros. Acabou provando isso a si mesmo tantas vezes, até que chegou ao ponto de desprezar o que vinha de fora, atingindo o extremo de hiper-valorização exclusiva do que vinha de sua mente. Tinha consciência que estava errado, mas como não tinha vontade de procurar ajuda no outro e também tinha a certeza de estar no caminho certo, permaneceu dessa forma por muito tempo. Todavia, jamais se esqueceu de dar ouvidos ao que não era visível e tinha certeza que havia alguém mais em volta, portanto toda vez que lhe comunicavam, prestava bastante atenção, pois sempre poderia ser um recado do mundo espiritual. Sabia que estava sendo protegido e vigiado por um guardião invisível e pedia sempre por sua proteção nunca se esquecendo de agradecer os espíritos desencarnados ao seu redor. Dito tudo isso, e considerando as maravilhosas obras que tinha feito ainda em vida com o auxilio dos poderosos espíritos de boa vontade, imaginou que este era outro momento que precisaria da ajuda de seu anjo pessoal e, sobretudo de Deus. A sua proposta não era de forma alguma de cunho individual e egoísta, mas sim um trabalho sério e glorioso, que encabeçaria uma nova revolução em todos os mundos vigentes. Formaria assim uma nova ramificação no Universo, onde abriria espaço para todas suas idéias latentes que indubitavelmente iriam interferir no curso de toda evolução do Universo.

Parte 4 – Fundação do Mundo dos Caminhos Luminosos

Começou então a elaborar seu plano, construiu um território sem limites e deu a ele a propriedade de se manifestar na mente de quem tem boas intenções e amor no coração. Logo, vários mestres religiosos e espirituais teriam uma grande surpresa ao acessar esse terreno tão vasto e maravilhoso. Acontece que nunca foi do intento do jovem ter a fama de ter criado o espaço, pois contava com a ajuda dos anjos e de Deus para elaborar seu plano. O espaço novo era agora habitado por elevados espíritos e continha os mais fabulosos segredos arcanos.  O jovem mestre ficou contente com esse novo mundo, embora não quisesse mais aparecer em sua forma original, pois não tinha vontade de se reencontrar com todos aqueles com os quais um dia já teve contato. Sua perturbação era aparente aos olhos dos anjos e de Deus, mas ninguém mais era capaz de suspeitar de qualquer coisa. Esse grande mestre atingiu então um patamar extraordinário na escala evolutiva dos espíritos. Tornou-se um dos membros das mais altas hierarquias celestes. Sua lealdade e sua força interior eram quase puramente o reflexo da perfeição absoluta do criador. No entanto ainda tinha um assunto pendente, sua alma parecia perdida, vagando indefinidamente num mundo de fantasias. Apesar disso, continuava a exercer seu cargo importante, pois sem dúvida alguma era uma figura indispensável na hierarquia divina na ajuda para o controle absoluto de um mundo tão peculiar e cheio de mistérios que havia criado.